“Não deixo de ter esperanças de um dia voltar a caminhar, mas, hoje em dia, meu foco está voltado para viver um dia de cada vez, conquistar meus objetivos aos poucos.”

A frase é de Victor Paulo Fernandes Neves, 24 anos, estudante do 7º período de administração no Centro Universitário do Planalto de Araxá (Uniaraxá).

Vítima de acidente de carro em 2013, quando sofreu um trauma na coluna vertebral, ele começou a praticar natação e hoje colhe importantes resultados na modalidade. Victor tem patrocínio da Reval e conta com outros apoios para se dedicar ao paradesporto.

Primeiras medalhas – Ele faz parte da equipe de natação APAE Araxá/Mergulho Sport Center e em dezembro de 2016 competiu pela primeira vez, nos Jogos Universitários no Centro Paralímpico de São Paulo (SP). “Nessa competição nadei três provas: 50 metros costas, 50 metros livres e 100 metros peito. Na minha primeira e única competição até o momento ganhei três medalhas de ouro”, celebra.

A segunda competição foi em Brasília no início de abril, no Circuito Regional Caixa, onde ele nadou os 50 metros costa (sua especialidade) e os 50 e 100 metros livre. Ele ganhou uma medalha de ouro e duas de prata, mas ainda não obteve o índice para o Circuito Nacional de Natação, onde poderá dividir a piscina com o maior medalhista paralímpico no Brasil, o nadador Daniel Dias. As etapas seguintes, em busca da vaga, seriam em São Paulo e no Rio Grande do Sul, ambas em abril.

Patrocinadores – “A Reval, a Strong Suplementação Especializada e a Mergulho Sport Center são meus principais patrocinadores”, comemora. Sobre o apoio da Reval, ele diz que a empresa banca mensalidade da academia de treinamento e fornece materiais como camisetas e toucas e tende a ampliar o patrocínio.

“Esse patrocínio faz toda a diferença em minha vida. Além de me ajudar a continuar inserido no esporte, a alcançar meus objetivos, eles me incentivam a continuar querendo ser alguém e fazer alguma coisa boa. Espero um dia retribuir todo o apoio, carinho e respeito que eles estão tendo comigo. Espero também poder ajudar outras pessoas, assim como eles têm feito comigo. Sou muito grato à família Reval.”

Passeio interrompido no meio do caminho

Era 15 de novembro de 2013, Victor Neves iria assistir a um show em Perdizes, distante 50 km de Araxá, sua cidade natal. Nesse trecho da estrada mineira, porém, sua vida mudou. O carro em que estava com amigos capotou e seu destino passou a ser o hospital. Ficou paraplégico. Teve de recomeçar a vida. Hoje, mesmo com suas limitações de cadeirante, vive a vida com alegria. Ele próprio conta como tudo aconteceu:

“Na época eu tinha 20 anos, trabalhava na empresa AmBev como promotor de marcas e vendas nível 1. O acidente foi às 22 horas. Estava indo para Perdizes-MG, a lazer, com mais três pessoas no carro. Nós iríamos a um show, mas o motorista perdeu o controle da direção do veículo, entramos muito rápidos em uma curva e capotamos. 

Estava no banco de trás, do lado do passageiro, o mais danificado no acidente. Fomos socorridos pelos bombeiros e levados ao pronto-atendimento de Araxá. Fiz alguns exames e foi constatado um trauma na coluna vertebral. Fui transferido para Uberlândia para fazer a cirurgia (artrodese tóraco-lombar) e fixação das vértebras de T8 a L1, posteriormente fui informado sobre a paraplegia.” 

Recuperação – Começava naquele momento do diagnóstico um longo processo de recuperação – excelente, por sinal. Victor fez fisioterapia por um ano e meio até obter vaga em um hospital de referência em Brasília (DF), o Hospital Sarah Kubitscheck.  Ficou internado durante 28 dias fazendo reabilitação.

“Não tenho nenhum movimento de membros inferiores ainda, mas com a cadeira de rodas sou 100% independente. Desde então, voltei à minha vida normalmente: curso faculdade há dois anos, namoro, saio com amigos, vou para a minha rotina de treinos e musculação tocando a cadeira de rodas sozinho”, comenta Victor Neves.

Essa independência dele o ajuda na recuperação e o dá esperança de voltar a caminhar, mas o foco dele é “viver um dia de cada vez” e conquistar os objetivos aos poucos.

Deficiência: “Lá dentro da água o jogo se inverte”

Victor Neves foi inserido no esporte no próprio Sarah Kubitscheck. Conheceu várias modalidades, como basquete em cadeiras de rodas, tênis de mesa, tênis, badminton, vela, canoagem. Foi a canoagem que chamou mais atenção, tendo em vista o esporte ter um ídolo nacional (Fernando Fernandes, ex-BBB).

De volta para Araxá, pensava em ser um paracanoísta, mas deparou com poucos recursos para ir adiante, incluindo equipamentos caros e um especialista para orientá-lo nos treinos. Tentou a handbike (bicicleta de mão), mas não se adaptou, apesar de manter o esporte como lazer.

“Eu me vi sem alternativas. Moro em uma cidade pequena, que não teria condições de me proporcionar oportunidades em outros esportes. Comecei a me perguntar o que faria agora. O que vai ser da minha vida? Do meu mundo?”, conta o paratleta, que só depois descobriu a natação. O amigo Thiago Mota, hoje companheiro de equipe, e o técnico Diego Rafael o convidaram para as piscinas.

O técnico Diego (de laranja ao fundo) e Thiago, o companheiro de equipe

“Vi que mesmo em uma cadeira de rodas poderia fazer o que qualquer pessoa faz. Percebi que poderia me sentir livre de novo. Tenho um lema hoje para seguir a minha vida – intensidade e superação. Quando estou dentro de uma piscina, olho para os lados e pergunto: ‘cadê a deficiência?’ Porque é lá dentro da água que o jogo se inverte”, diz, realizado pela escolha certa.

Mas nem tudo são braçadas. Victor avisa que a vida de paratleta ou atleta de alta performance não é fácil. Dietas, disciplina, dificuldades, desafios, superação, choros, estresse, treinos extremamente puxados, pesados… Tudo isso faz parte do seu dia a dia. “Mas, graças a Deus tenho me dado bem com isso tudo. Tenho total apoio da família (Paulo, pai; Enelice, mãe; Polyana, Marcus, Paolla, irmãos), da minha namorada (Amanda), de amigos, do técnico e do amigo-companheiro Thiago, que me inspiram e colaboram para o meu crescimento nesse esporte.”

Victor e a namorada Amanda, no Centro Paralímpico em São Paulo

 

“O acidente do Victor mudou por completo toda a rotina da família, bem como a dele. Fisioterapia todos os dias, duas a três horas por dia. Acompanhamento médico fora de Araxá, idas constantes a Brasília para internação e exames de rotina. Até que um dia foi indicado ao Victor a natação. Nem podíamos imaginar que o esporte fosse ter tanta influência na vida diária dele.

Começou a treinar sem pretensões futuras. Era somente um esporte. Começou a despertar no seu professor um entusiasmo diferente. Foi convidado para uma competição em São Paulo, os Jogos Paralímpicos Universitários, onde conquistou três medalhas de ouro nas provas de nado costas, crow e peito.

Novos horizontes surgiam. Para isso, mais treinos, mais academia, alimentação adequada, equipamentos esportivos… Sem patrocínio ficaria inviável seguir em frente. O Victor recebe benefício do INSS de um salário mínimo. Tem faculdade para pagar, despesas pessoais, medicamentos, cateteres, entre outros gastos. Fomos então atrás de patrocinadores. Um amigo de faculdade doou a bermuda.

Depois de consultar uma nutricionista, fomos buscar patrocínio para alimentação. Conseguimos com a Strong Suplementação. A Sport Center Mergulho doou por 12 meses o custo da academia e, por fim, a Reval doou por 12 meses o custo da natação, bem como uniforme e touca. Agradecemos de coração a todos.

Até que o Victor se torne um atleta profissional, vocês foram e serão muito importantes neste início de caminhada. O Victor só nos tem dado alegrias. Para ele é uma nova jornada. Exemplo de humildade, de superação e grandeza. Uma alma nobre, boníssima. Nos ensinou a viver diferente, a enxergar a vida de maneira diferente. Que Deus o abençoe.” – Depoimento de Paulo Neves, RCA da Reval e pai de Victor


Gabriel Pascoli

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