Sobreviventes da tragédia em Nova Friburgo
Revista Reval destaca histórias de clientes vítimas de tragédia natural em 2011 e que mostraram ser possível reconstruir a loja e a vida e recomeçar, apesar da adversidade.
A Revista Reval abre um parêntese nesta edição para homenagear não um, mas vários clientes. Vamos contar a história de clientes de Nova Friburgo (RJ) vítimas da maior tragédia natural do país ocorrida em janeiro de 2011. Diversas cidades do Rio de Janeiro sofreram de forma impiedosa por causa do temporal na madrugada do dia 12. O maior desastre foi em Nova Friburgo, mas Teresópolis e Petrópolis também registraram muitas vítimas. Muitos clientes da Reval perderam tudo. Alguns contam sua história a seguir.
O representante comercial da Reval que atuava na época na cidade, Bruno Bert (hoje coordenador na região), acompanhou o drama dos lojistas.
Bert lembra que o excesso de chuva aliado à geografia de Nova Friburgo fez transbordar o rio Bengala, que corta a cidade, causando o caos generalizado. De fato, notícia publicada em 18 de janeiro no portal G1 mostrava que choveu 182,8 milímetros em 24 horas, índice muito acima do recorde histórico (113 milímetros em 24 de janeiro de 1964). A média para todo o mês em Nova Friburgo era 227 milímetros.
Devastação
“A cidade parou por aproximadamente 15 dias, nada funcionou, lojas, bancos, supermercados, comércio… O cenário foi de devastação total. Muitos de nossos lojistas perderam parentes, filhos e pais na tragédia. A contagem oficial informa aproximadamente 500 mortos em Nova Friburgo, mas números não oficiais chegam a 1.000. Muitos ficaram desaparecidos”, relembra Bruno Bert. Cerca de 35 mil pessoas nas várias cidades ficaram desalojadas.
Ele diz que lojistas que tiveram apoio se restabeleceram, mas muitos que perderam tudo nunca mais se reergueram. “Apesar de 90% dos nossos clientes na cidade terem sido atingidos diretamente, um depoimento triste, mas importante, é a história do Caíque. “Sua loja é no bairro de Rui Sanglard, no alto de uma montanha. Ele e os pais saíram pela janela de casa segundos antes do morro inteiro vir abaixo e levar casa, loja, veículo, o bairro todo. Ficaram, como tantos outros, ilhados”, ressalta Bruno.
A economia de Nova Friburgo parou e, até hoje, não se recuperou totalmente. As pessoas se assustam com qualquer chuva mais forte, com as constantes sirenes que informam que chuvas fortes cairão pelo local. “Enfim, até hoje existe a lembrança da catástrofe e pelo que sinto nunca será esquecida por aquela população”.
“Tudo revirado e cheio de lama”
“Nunca estamos preparados para uma tragédia. Tudo que se passa nessa vida é um grande aprendizado. Graças a Deus e com superação hoje estamos bem.” (Ironea Aguiar Mascouto Ramos, Ananias Presentes)
Ironea Ramos teve seu drama particular naquele janeiro de 2011. Parecia só mais uma chuva, daquelas que a família estava acostumada a enfrentar com uma comporta na entrada da loja e colocando para o alto os produtos da Ramos Presentes. Mas não foi assim. O temporal venceu as barreiras e inundou de lama o estabelecimento. Com muita luta a loja sobreviveu e chega a 22 anos de mercado.
Foram 20 dias de luta para limpar tudo e começar a vender algumas mercadorias salvas. Para normalizar, no entanto, foram 12 meses. E, mesmo hoje, apesar da superação, a loja ainda não voltou a ser o que era. Até o nome é outro: Ananias Presentes. “Na tragédia éramos seis funcionários e os dois donos. Hoje temos três funcionários”.
Tristeza – Ela diz que tinha muita água na loja. Faltava luz. Todos os balcões tombaram com as mercadorias em cima. Só foi possível visualizar o que acontecia e tentar salvar alguma coisa graças a um óculos do Brasil com luz nas laterais. “No dia seguinte, ao baixar as águas, a tristeza bateu ao ver tudo revirado e cheio de lama. Não imaginávamos o tamanho da catástrofe ocorrido na cidade”.
Começava ali uma verdadeira superação. Foi preciso colocar a “mão na massa” literalmente. Ela lembra que usou água de chuva para limpar a loja. Energia elétrica só voltou dias depois, o que permitiu usar água do poço para completar a limpeza. “A ajuda veio de amigos, clientes e funcionários. Não tivemos ajuda do poder público. Os parceiros comerciais ajudaram prorrogando as duplicatas”.
Segundo ela, “entre trancos e barrancos conseguimos abrir com pouco de mercadoria que nos restou. Mas, para normalizar, foram 12 meses. Nunca estamos preparados para uma tragédia. Tudo que se passa nessa vida é um grande aprendizado. Graças a Deus e com superação hoje estamos bem”.
“Vivemos momentos de guerra”
Parecia que Nova Friburgo tinha sido devastada por uma guerra. É assim que Nivaldo Monteiro Barradas, proprietário da Vem Ki Tem Bazar e Papelaria, classifica os primeiros dias de 2011. Sua loja tem quase 30 anos de mercado, muitos dos quais como cliente da Reval.
Nivaldo se emociona ao falar daquele início de ano. Diz que nem tem fotos da tragédia. Não conseguiu fazer e registrar o tamanho do desastre. Mas garante que o horror todo está em sua memória. Mas ele conseguiu reagir e permanece atuante até hoje.
“O recomeço não foi fácil. Tivemos de negociar com os fornecedores, alguns muito rígidos, mas ou eles aceitavam minha proposta ou procuravam a justiça. Graças a Deus estou aqui no comércio. Foi preciso muita luta, mas a vontade de vencer nunca ficou escura na minha visão de lutador”. (Nivaldo Monteiro Barradas, Vem Ki Tem Bazar e Papelaria)
Tudo perdido, menos a própria vida e a vida dos pais
“Apesar de saber que tínhamos perdido nossa casa, a loja que era nosso sustento, todo o estoque e também tudo que tínhamos, a sensação que sentíamos era de alívio e gratidão por termos saído todos com vida do episódio.” (Carlos Henrique Gomes da Silva Huguenin, Elizete Presentes)
Carlos Henrique Gomes da Silva Huguenin precisou reconstruir a Elizete Presentes em novo endereço, alguns metros abaixo de onde tudo ruiu na tragédia de 2011. Prédio de dois andares, com loja embaixo e residência em cima, veio abaixo. Ele conta que perdeu praticamente tudo, mas ainda assim saiu grato do episódio ao escapar com vida e ver seus pais salvos, mesmo com uma parede caindo sobre a cama onde dormiam.
“Somos uma pequena empresa familiar e não contamos com grande número de funcionários, mesmo assim tenho muito orgulho do que foi feito para recomeçarmos nesse período”, diz Carlos, também chamado de Caíque. A Elizete Presentes se recuperou, tanto é que no fim de 2015 já promovia sorteios de prêmios no Natal para os clientes. São 21 anos no mercado. Hoje, três membros da família e um funcionário atuam na loja.
Incerteza – “O passar dos dias nos trouxe a incerteza sobre o que fazer do futuro e a preocupação com as dívidas que tínhamos com nossos fornecedores”. Foram mais de 15 dias de dúvidas numa cidade paralisada e sem infraestrutura.
O apoio dos amigos e dos clientes mostrou o caminho a seguir: “A todo tempo diziam que tínhamos de voltar, que nossa loja iria fazer muita falta ao bairro”. A volta foi numa garagem, com um bazar dos poucos produtos que escaparam da lama. Carlos diz que se surpreendeu com o grande número de clientes que compravam no crediário e que foram pagar suas prestações. “Muitos anteciparam contas com vencimento futuro, mesmo sabendo que havíamos perdido todas as fichas e a documentação dos mesmos”.
Este capital permitiu alugar uma loja em ponto próximo da tragédia e fazer alguns investimentos. A Elizete Presentes teve apoio da maioria dos fornecedores, inclusive da Reval, que aceitaram refinanciar as dívidas e liberar crédito para mais mercadorias. Ele também recorreu ao banco para conseguir um empréstimo financiado pelo BNDES. Tempos depois o dinheiro foi liberado, permitindo iniciar as obras para uma nova loja.
“Até finalizarmos as obras e mudarmos para a loja nova foram 10 meses de muito trabalho e empenho, porém, ainda demoramos muito a poder dizer que tudo estava normal, pois ainda tínhamos muitas dívidas financiadas e precisávamos reconstruir nossa casa, o que levou pelo menos mais um ano”, conta o cliente da Reval.
Lição de vida – “Toda essa situação nos deixou algumas lições. A primeira é que vale muito a pena ser honesto e agir corretamente com todos com quem você se relaciona. Fez muita diferença termos o apoio de nossos clientes e fornecedores. A segunda lição é que, nas adversidades, não podemos parar: é preciso ter calma e planejar um caminho para recomeçar e, a partir daí, trabalhar e se dedicar 100% pra atingir seus objetivos. E a terceira, e mais importante lição, é confiar em Deus e ter fé, pois, nos momentos em que você acha que tudo está perdido a fé te leva a seguir em frente e renova suas forças”.
Fortes chuvas e deslizamentos
A tragédia foi causada por um fenômeno raro que combina fortes chuvas com condições geológicas específicas da região. Porém, ela foi agravada pela ocupação irregular do solo e a falta de infraestrutura adequada para enfrentar o problema.
O ar quente e úmido vindo da Amazônia gerou nuvens carregadas no Sudeste. Na região serrana do Rio, as montanhas formaram uma espécie de barreira que impediu a passagem de nuvens e concentrou a chuva numa única área.
Na madrugada daquele dia uma enxurrada de toneladas de lama, pedras, árvores e detritos desceu a montanha arrastando tudo pelo caminho. A grande inclinação das montanhas fez com que o deslizamento atingisse até 150 quilômetros por hora, aumentando a potência de destruição.
Os rios se encheram rapidamente, inundando as cidades (em Nova Friburgo, o rio subiu mais de cinco metros de altura). Ruas foram cobertas por um mar de lama, com corpos espalhados, casas destruídas e carros empilhados. A queda de pontes em rodovias deixou cidades isoladas, e os moradores ficaram sem luz, água e telefone.
(Fonte: José Renato Salatiel/Pedagogia & Comunicação/Vestibular.Uol)
Nova Friburgo: turismo e moda íntima
Nova Friburgo é responsável por 25% da produção nacional de lingerie e é conhecida pelo título de “Capital da Moda Íntima”. O Polo de Moda Íntima de Nova Friburgo e Região possui cerca de 1.300 confecções que geram 21 mil postos de trabalho e produz aproximadamente 114 milhões de peças por ano. É realizada a Feira Brasileira de Moda Íntima, Praia, Fitness e Matéria-Prima (Fevest), uma das maiores da América Latina.
A produção industrial da cidade, em especial as indústrias do setor metalomecânico, representa 41% do Produto Interno Bruto (PIB) friburguense, perdendo apenas para o setor de serviços, segundo dados da Firjan. Na agricultura, o cultivo de inúmeras variedades de frutas, legumes, verduras e flores transformou a cidade em referência estadual da agroindústria. Atualmente, Nova Friburgo detêm o título de maior produtora de morango, couve-flor e flores de corte do Estado.
O município também se destaca pela tradição turística proporcionada pelo seu clima, belas paisagens e por possuir fortes atrativos como a indústria de lingerie, Queijaria Escola, chocolates artesanais, gastronomia variada e internacional, produtos de beleza derivados de leite de cabra e eucalipto, comércio diversificado, universidades e escolas que reúnem um centro de excelência em ensino.
Dados gerais
Aniversário: 16 de maio (198 anos)
Área total: 938,5 km²
População: 182.082 (Censo/2010)
(Fonte: Prefeitura de Nova Friburgo e Wikipedia)